De onde vieram a katana, o jūjutsu e o “estilo de luta” japonês (séculos VII–XVII)

Por Braddock, 12 Outubro, 2025
Combatives

De onde vieram a katana, o “estilo de luta” japonês e o jūjutsu?

Linha do tempo clara (séc. VII–XVII), sem mitos: chokutō → tachi → katana, de kumiuchi militar ao jūjutsu codificado. Referências japonesas e museus — sem Wikipedia.

700–800: antes do “samurai” clássico

O estado de Yamato ainda centraliza o país; os “guerreiros” são tropas imperiais e milícias de fronteira. Campanhas contra os Emishi no norte moldam cavalo + arco como base do combate.

  • Armas: arco a cavalo, lanças; espadas retas (chokutō) de influência continental.
  • Função: proteger rotas, guarnecer templos e domínios privados (shōen).

Como surge a “espada japonesa”: de chokutō a tachi e, por fim, katana

  • Chokutō (直刀) — lâmina reta, chegada via China/Coreia (Kofun–Asuka). Uso sobretudo de estocada; aparece em túmulos e acervos arqueológicos.
  • Tachi (太刀) — séculos IX–XII: lâmina curva pendurada com o fio para baixo. Adaptação prática para combate montado e saque fluido. Montagens cerimoniais (kazari-tachi) derivam de modelos Tang (karadachi).
  • Katana (刀)tardia, consolida-se no fim de Muromachi (séc. XV): levada na faixa (obi) com o fio para cima, privilegiando saque rápido em combate a pé (uchigatana/katana).

Do agarramento de campo (kumiuchi) ao jūjutsu das escolas

Nos séculos XII–XVI, no choque real de armaduras, a luta agarrada (kumiuchi) decide após a troca de flechas/lanças. Em Edo (séc. XVII), com paz interna, essas técnicas são codificadas em escolas (ryūha) como torite/yawara, recebendo o nome jūjutsu.

  • Tomar e imobilizar: controle de juntas, projeções, estrangulamentos leves; transição de “campo” para “currículo”.
  • Marco documental: Takenouchi-ryū (1532) — sistema abrangente (armado/desarmado), frequentemente citado no Japão como tronco inicial do jūjutsu documentado.

China/Coreia influenciaram? E a ideia “veio da Índia”?

  • Sim, houve influência continental em metalurgia, montagens e alguma doutrina militar — o Japão adapta ao seu terreno e às guerras locais.
  • Não, o jūjutsu não “veio da Índia”. A associação de Bodhidharma com artes marciais é tardia (séculos XVII–XX) e rejeitada por pesquisa acadêmica. As práticas marciais de Shaolin têm documentação Ming; o elo “Índia → Shaolin → Japão” é lenda moderna.

Linha do tempo, curto e direto

VI–VIIIchokutō (reta) chega da China/Coreia; tropas de Yamato.

IX–XIItachi (curva, fio para baixo) domina; arco + cavalo; kumiuchi em choque de armaduras.

XVuchigatana/katana (fio para cima) se impõe no combate a pé; guerras internas refinam técnica.

XVII — escolas de jūjutsu (nome e currículo) sistematizam o agarramento que já era praticado.

Tradição não nasce do nada: nasce do que funciona, filtrado por gerações.

Braddock

Fontes para checar (museus, escolas, academia)

  • Tokyo National Museum — “Various Styles of Tachi Sword Mountings” (origem karadachi Tang → tachi cerimonial).
  • Kyoto National Museum — “Introduction to Japanese Swords” (guia técnico: tachi, uchigatana/katana, encurtamentos, morfologia).
  • Metropolitan Museum (Heilbrunn) — ensaios e catálogo Art of the Samurai (linha geral da evolução das lâminas e do armamento).
  • Britannica — campanhas contra os Emishi no período Nara/Heian (contexto estatal pré-samurai).
  • Takenouchi-ryū (site oficial) — fundação em 1532; torite/kumiuchi e currículo de jūjutsu clássico.
  • Meir Shahar — The Shaolin Monastery (Universidade do Havaí): evidência Ming para práticas de Shaolin; crítica à lenda de Bodhidharma como “pai das artes marciais”.
  • Artigos acadêmicos (Cambridge/JSTOR/ResearchGate) — relação Zen × artes marciais e historicidade das narrativas.

Observação: priorizei acervos japoneses e pesquisa acadêmica.

Tags