O gesto nasceu das tradições budistas e da etiqueta da corte japonesa e foi absorvido pelos guerreiros a partir do período Kamakura.
O cumprimento entre samurais fazia parte do reiho, o conjunto de regras de etiqueta que guiava o comportamento do guerreiro. Era um ritual silencioso de respeito e atenção, muito antes de qualquer formalidade moderna das academias. O gesto nasceu das tradições budistas e da etiqueta da corte japonesa e foi absorvido pelos guerreiros a partir do período Kamakura, quando o poder militar tomou forma no Japão.
Sentido do gesto
Curvar o corpo significava reconhecer a presença do outro e demonstrar autocontrole. Ao se inclinar, o samurai expunha o pescoço, ponto vulnerável, mostrando que não trazia intenção de ataque. Era um ato de confiança, respeito e consciência, não de submissão. O ângulo da inclinação mostrava o nível de respeito: leve entre iguais, profundo diante de mestres ou ancestrais.
Formas de saudação
Ritsurei — saudação em pé. Pés juntos, corpo alinhado, mãos ao lado do corpo, olhar baixo e movimento lento. A inclinação é feita com controle, sem pressa e sem sons. Era usada antes e depois de duelos, treinos e ao entrar em locais sagrados.
Zarei — saudação ajoelhado. Sentado em seiza, costas retas, mãos tocam o chão formando um triângulo, testa próxima às mãos, respiração calma, retorno controlado. Usada diante do mestre, do altar ou em momentos solenes.
Quando se cumprimentava
- Ao entrar e sair do dojo ou de qualquer espaço de prática
- Ao saudar o shomen ou o kamiza
- No início e no fim de uma prática com parceiro
- Antes e depois de demonstrações e combates formais
O que o gesto expressava
O cumprimento era mais que educação. Representava o estado mental do guerreiro: presença, calma e respeito. O samurai treinava para dominar o corpo e a emoção antes de enfrentar o outro. O cumprimento, feito com tempo e consciência, era o primeiro teste dessa disciplina interna.
Gestos errados
Bater os braços no chão, abaixar rápido a cabeça ou marcar o movimento como um comando militar são erros modernos. No Japão, gestos bruscos ou ruidosos são vistos como desrespeitosos, porque quebram a harmonia do reiho, que pede suavidade, silêncio e controle.
Por que preservar o modo antigo
O cumprimento certo não é apenas forma. Ele ensina a respirar, a conter o impulso e a estar inteiro no momento. É o elo entre o passado e o presente das artes marciais, o ponto onde se entende que técnica e espírito caminham juntos. Fazer de qualquer jeito é perder o que o gesto realmente carrega.
Resumo
Os samurais cumprimentavam com ritsurei e zarei, em silêncio, com postura reta e tempo no movimento. Nada de bater os braços, olhar pro chão ou fazer rápido. Era respeito visível, intenção clara e domínio interno — a essência do reiho.
Referências
- Ogasawara-ryū Reihō — Escola tradicional de etiqueta japonesa, fundada no século XIV.
- Friday, Karl F. Samurai, Warfare and the State in Early Medieval Japan. Routledge, 2004.
- Hall, John Whitney et al. The Cambridge History of Japan, Vol. 3: Medieval Japan. Cambridge University Press, 1990.
- Benn, James A. Burning for the Buddha: Self-Immolation in Chinese Buddhism. University of Hawaii Press, 2007 — sobre as raízes budistas da reverência.
- Tokitsu, Kenji. Miyamoto Musashi: His Life and Writings. Shambhala, 2006.