A primeira flexão

Não lembro da primeira vez que joguei bola. Nem da primeira vez que andei de bicicleta. Mas lembro da primeira flexão que paguei. Tinha 10 anos. Colégio Militar de Curitiba.

Ali não tinha espaço pra “não consigo”. Ali você aprendia na marra o valor da disciplina. A flexão era mais que exercício... era código.

Paguei porque me mandaram. Depois paguei porque fazia parte. E um dia, passei a pagar porque era minha escolha.

Era o jeito de provar, pra mim mesmo, que eu não ia desistir. Paguei flexão de madrugada, com raiva. Paguei escondido no banheiro, pra não socar ninguém. Paguei de honra, por perder. Paguei por respeito, pra veterano. Paguei por desafio, por amizade, por orgulho.

Nada disso foi de graça. Nada disso foi humilhação. Era o caminho.

Era assim que a gente descobria quem era quem.

Hoje, décadas depois, tem dia que meu corpo dói, tem dia que a mente pesa. Mas se eu ainda consigo lutar, puxar peso, correr, respirar fundo e continuar... é porque aquela loucura nunca saiu de mim.

Cinquenta anos se passaram. Algumas fases eu treinei menos. Outras, paguei tudo que tinha deixado pra trás.

Essa geração nova fala de motivação. Na minha época, a gente aprendia no grito. Na porrada, não era grosseria... Era a construção de algo...

A todos os meus professores, muitos, quase todos já partiram, meu respeito absoluto. Aos monitores do Colégio Militar, minha eterna gratidão. Vocês não estavam “pegando pesado”. Estavam ensinando o que ninguém mais ensina... que caráter se constrói na porrada, no impossível, na dor.

E naquela época… ninguém pagava flexão pra ficar no shape e se olhar no espelho. A gente pagava pra aguentar porrada. Obrigado anos 80.

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